AFONSO LOPES DE BAIÃO
Afonso Lopes de Baião (c.1210 – 3 de maio de 1280 ou depois de 17 de julho de 1284) foi um rico-homem do Reino de Portugal tendo o seu período de vida, de aproximadamente 70 anos, abrangido os reinados de D. Sancho I de Portugal, D. Afonso II de Portugal e dos irmãos D. Sancho II de Portugal e D. Afonso III de Portugal, ainda sobrevivendo a este último. Foi senhor de Baião e Penaguião, e ainda um trovador português numa fase mais avançada da lírica medieval ibérica, uma vez que parece estrear-se na composição durante a crise política de 1247.
(...)
Afonso, para além de rico-homem e poderoso senhor, foi também um trovador, como o comprova a sua prolífica obraː]quatro cantigas de amor, quatro de amigo e quatro de escárnio e maldizer.
(...)
Na cantiga de amor, Afonso introduz o tema da "coita", causado, quer pela partida da dama que não poderá voltar a ver quer pelo silêncio do namorado, que não ousa infingir o código comportamental cortês e revelar os seus sentimentos à poderosa senhor. São so casos de Senhor, que grav’oj’a mi é e O meu Senhor [Deus] me guisou, respetivamente, que, sendo cantigas de refrão, seguem o esquema rítmico mais comum na poesia galego-portuguesa (abbacc).
A cantiga de amigo incide sobre a romaria (três das quatro) e a hipérbole da morte do amor, causada pelo atraso do amigo.Também cantigas de refrão, possuem uma maior diversidade métrica. Afonso Lopes recorre ao decassílabo, ao octossílabo grave e agudo, ao endecassílabo com heptassílabo, e ainda um momento em que insere um verso de treze sílabas.
As cantigas satíricas refletem sobre variadas temáticas. Numa das cantigas troça de um homem de apelido Alvelo pela sua aversão ao matrimónio (de que é causa a sua alegada homossexualidade). Na trova En Arouca űa casa faria, Afonso utiliza as metáforas de casa e madeira nova, para expressar o desejo de uma jovem freira, pedindo-a à então abadessa de Arouca e sua tia, Mor Martins de Riba de Vizela. Paio Gomes Charinho responde a esta cantiga num tom lúdico na sua obra Don Afonso Lopes de Baian quer. As restantes duas sátiras incidem na linhagem dos Briteiros, escarnecendo das humildes origens da família quando comparadas à grande projeção política que ganharam com Afonso III de Portugal, sendo que em Sedia- xi don Belpelho en űa sa maison, apresenta numerosos galicismos léxicos e sintáticos, que, combinados com a estrutura épica do texto, remete para a célebre Chanson de Roland.
Trechos da biografia extraídos de:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Lopes_de_Bai%C3%A3o
CANTIGA DE AMIGO
Fui eu fremosa fazer oraçon
non por mia almaa, mais que viss´eu i
o meu amigo, e, poilo non vi,
vedes, amigas, se Deus me perdon,
gran dereit´é de lazerar* por en,
pois el non v~eo, nem aver meu bem
Ca fui eui chorar dos olhos meus,
mias amigas, e candeas queimar
non por mia alma, mais polo achar,
e, pois, nom v~eo, nem o dusse** Deus,
gran dereit´é de lazerar por en,
pois el non v~eo, nem aver meu bem
Fui eu rogar muit´a Nostro Senhor
non por mi alma, e candeas queimei,
mais por ver o que eu muit´amei
sempr´, e non v~eo o meu traidor:
gran dereit´é de lazerar por en,
pois el non v~eo, nem aver meu ben
*lazerar: sofrer, chorar.
*dusse: touxe.
*
VEJA e LEIA outros poetas de PORTUGAL em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/portugal/portugal.html
Página publicada em novembro de 2021
|